Simbiótico

quarta-feira, abril 28, 2004

Andanças



Companheira inseparável de miséria e vício. Perambulava pelas ruas da cidade mendigando o essencial para sobreviver. Vivia, assim, sempre de mãos dadas com a "Cachaça", que por vezes se mostrava companheira. Única a prestar qualquer tipo de ajuda, em gestos de uma solidariedade singular.
Nunca se soube se tinha nome, família ou conhecido. Sua cúmplice era a própria sombra, uma vez que à aparência nada revelava diante da face gasta e desbotada. Sem nome, era apenas mendiga. Repulsiva figura, de cheiro rançoso e andar arrastado.
Gritava a todos a decadência humana em seu limite supremo. Era impossível fugir a seu olhar morteiro. E, uma vez cruzado, perseguia vida afora com seus risos desdentados de gengivas podres e estômago oco.
Andava de pés descalços, corroidos pelo asfalto, ia não sabe-se onde. Sua casa, era à primeira esquina que caisse sem forças para levantar. Com o sol a pino na cara, dilacerando, as feridas, na carne encardida de poeira acumulada. Subia-lhe pelo pescoço e nuca moscas varejeiras atraídas a lamber vazamentos infecciosos dos ouvidos.
Ainda assim, por trás daquela carcaça necrosada, havia algum resquício de pureza feminina, ocultando o glamour da vaidade, ainda que em estado deplorável.
A grandeza da caridade pública era o asco, com olhares infestados de desdém. Talvez o jeito bronco de abordar, assustava as pessoas, principalmente os pivetes desocupados, que se encarregaram de encerrar a vida daquela mulher.
Recebida a pedradas, vaias e murros nas costas, foi atirada, ao chão, aguentando bicas no corpo. Pauladas nas pernas cansadas, mijo no rosto deformado... - "Bigada fio". Proferiu as ultimas palavras antes de cerrar os olhos para sempre. Morreu jogada ao meio-fio da calçada.
Apesar da existência "apagada", ficaram as moscas, a imundice e todas as misérias que a vida faz questão de jogar na cara. Exposta na pequena nota dada pelo jornal: "Corpo de indigente encontrado no meio de lixão".


sábado, abril 17, 2004

A boa garrafa... o cão vira-lata





A boa garrafa - Daumier


Mexa, revire, procure, fuce, nas suas tranqueiras, e sempre encontrará, algo novo e inusitado. Por isso meu apreço por velharias. Por acaso (leve o acaso como seu maior irmão) achei em um livro, empoeirado da minha estante, essa pintura de Daumier.
Talvez, Alvares de Azedo, usasse o quadro, para ilustrar, a capa de Noites na Taverna.
Eu tenho certeza absoluta: foi feito para cães vira-lata. Numa relação das mais simples possíveis.
Depois de vê-lo, várias vezes, chego à conclusão que o mundo foi feito para os loucos...


sexta-feira, abril 16, 2004

Ótima idéia...



Eu deveria atualizar, meu blog, com frequência. Só não faço isso, por ser vadio. Às vezes o calor não deixa eu mostrar o mundo contido no meu pensamento. Mas hoje choveu, então... apenas filosofando.
Aliás, poderia inventar várias desculpinhas... ou simplesmente dizer que, estou sem tempo. Mas isso, não ocorre. Prefiro deixar, as coisas, personagens, fatos e afins, guardados no pensamento, para me dedicar mais a leitura.
Estou preferindo escrever com papel e caneta. Não. Não é para melhorar à caligrafia. Às vezes páro, para pensar no que é ser escritor, e você, vê que ainda tem que engolir muita poeira...
Hoje, por acaso, tive uma idéia que me deixou feliz, como há tempos eu não ficava. Meus dedos estão coçando para falar, mesmo assim não posso dizer. Dias atrás, falei nesse blog que, estava atrás de um desafio...
Essa idéia, em partes é um desafio, porém simples e perfeita. Agora é começar a ajeitar as paradas... daqui uns dias falo sobre ela. Vai ser de causar espanto, por enquanto, apenas uma idéia...

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquisila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar de uma vez:
E só tirar a cortina
Que entra luz nesta escuridez

Mario de Andrade



sábado, abril 10, 2004

Madrugada...



Por todos os lados
O silêncio ecoando
Linda ópera
Inspirando nostalgia

Eu, filho da noite estrelada
Apaziguado pela armadura de D. Quixote
Menosprezo qualquer obscurantismo
Oh! Com um punhal encostado no peito!

Vê? Logo ali, os campos verdes...
O meu ídilio é perfeito
Com apenas um girassol
Escorado na loucura.

Já faz tanto tempo
Madrugada...
Extravaza sentimentos
Regada a nicocafeína


domingo, abril 04, 2004

Domingo nunca mais



O domingo está errado. A semana já começa torta. Justamente, o primeiro dia da semana é tirado para o descanso, deveria ser o último. Há um bom tempo o domigo é considerado dia de descansar.
Em 321 D.C. o imperador romano, Constantino, promulgou esse decreto: "Que todos os juizes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol". Em inglês o domingo chama-se sunday (dia do sol).
Para colocar o domingo no seu devido lugar, visando o bem-estar da nação, fiz um projeto de lei. Já em vias de encaminhamento ao Congresso. Batizado com o nome "Domingo nunca mais". Nele, o dia de descanso, dos milhares de pobres-diabos, sem carteira de trabalho assinada, será o sábado. Ninguém adora o sol. O domingo passará a se chamar "primeira-feira", assim, a semana começa organizada.
Meu projeto não é um absurdo, ele é util. Diferente da lei que Aldo Rebelo - um dos cabeças da cupúla petista -. está querendo aprovar. Proibindo "estrangeirismos" na língua. Como se a língua portuguesa por si, já não fosse mutante. Aguardem as leis "inovadoras" do coordenador político do governo, Aldo Rebelo. O meu projeto, pelo menos é organizador.
A sociedade verá que tudo irá melhorar com meu projeto de lei. Farristas não se preocupem. Sábado será o novo dia, de curar ressacas. Donas de casa, a maionese não irá sumir. Desde já, acostumem-se a fazê-la no sábado. Mas, talvez o Congresso Nacional, demore a votar, o "Domingo nunca mais". Há outros projetos sem-valor, na frente. Brecando o andamento de projetos realmente importantes como o meu. Perdendo a oportunidade de mostrar ao mundo, que o Brasil é um país "inovador" e "organizado".


Fale comigo antes de catar qualquer coisinha por aqui.